Alagoas: sea, sugar, trash… and finally paradise!|Alagoas: mar, açúcar, lixo… e finalmente o paraíso!

Praia do Carro Quebrado/ Carro Qu. BeachDepois de sobreviver o episódio de chegada ao litoral, estávamos ansiosos para aproveitar a praia na Barra de Santo Antônio, mas infelizmente a má sorte continuou a nos afetar (lembra dos gatos pretos?): choveu muito no nosso primeiro dia de praia! Por sorte havia três alemãs simpáticas na nossa pousada (em algumas ocasiões senti que o Alemão é mais útil que o português para fazer amigos no nordeste!) e aproveitamos o dia juntos. Trocamos histórias de viagens, e em uma delas elas nos contaram que no dia anterior uma moça havia sido assaltada com dois facões enquanto caminhava pela praia onde estávamos.

After surviving our adventurous arrival on the coast, we were anxious to enjoy the beach in Barra de Santo Antônio. Unfortunately our bad luck (remember the black cats?) continued: It rained a lot on our first day on the beach! Luckily, there were 3 nice Germans in our pousada (a few times I felt that knowing German is more useful to make friends in the Northeast than Portuguese!) and so we got through the rainy day together. We exchanged travel stories, and in one of them they told us that the previous day men with machetes had robbed a woman as she was walking along the beach where we stayed.

Aiaiai… os gatos pretos, a chuva e agora esta história, fez com que quiséssemos partir para nosso próximo destino o mais rápido possível, mas não queríamos ir embora sem conhecer a tão afamada Praia do Carro Quebrado. No dia seguinte o sol se abriu e fomos conhecer a tal praia. Ela é de fato bonita, semi-deserta e cercada por falésias coloridas com diferentes tons de vermelho. Porém, a pesar da beleza, sentimos um certo descuido e falta de segurança. Nosso guia nos aconselhou a andar somente onde havia outras pessoas e sem levar nem mesmo nossa máquina de tirar fotos.

Aiaiai… the black cats, the rain and now this story made us want to leave for our next destination as fast as possible. We did not want to leave, however, without knowing the famous Carro Quebrado (broken car) beach. The following day the sun was back and we went. It is really beautiful, uninhabited and framed by cliffs colored in various shades of red. Yet, despite its beauty, we felt that it was not well looked after and that also here security was lacking. Our guide told us to walk only where there were other people and to not even take our camera with us.

Objetivo alcançado, era hora de partir. Depois de tantas histórias sobre falta de segurança, não sentíamos vontade de ficar. Saímos de Barra de Santo Antônio para Porto das Pedras, também em Alagoas. Gostaríamos de conhecer as praias Patacho e Lage, muito bem classificadas em todos nossos guias.

Once the goal was reached, it was time to leave. We left Barra de Santo Antônio for Porto de Pedras, also in Alagoas. We wanted to get to know the beaches Patacho and Lage that were highly rated in our guide books.

No caminho (que de carro seria 1 hora e de ônibus levou 3) percebi que sabia muito pouco sobre Alagoas. A única coisa que me lembrava é que lá havia nascido e crescido, Fernando Collor de Melo, o único presidente brasileiro retirado do poder por corrupção.

On the way (what takes about 1 hour by car, took us about 3 by bus) I realized that I knew very little about Alagoas. The only thing I remembered was that it was the home state of Fernando Collor de Mello, the only Brazilian president who had been removed from office because of corruption.

Foi por isto que decidimos pesquisar um pouco da história deste pedaço de terra, cuja beleza das águas são de encher os olhos. Descobrimos que o estado se chama Alagoas porque os portugueses se encantaram por suas lagoas; que sua área pertencia a Capitania de Pernambuco e também foi ocupada por franceses e holandeses, e não somente por portugueses; e que em uma de suas serras, a Serra da Barriga, se estabeleceu o Quilombo dos Palmares, movimento centenário de resistência negra à escravidão, liderado pelo legendário Zumbi.

This is why we decided to find out more about the history of this piece of land, whose waters are so beautiful you don’t want to look away. We found out that the state was called Alagoas because the Portuguese had really liked its lakes (lagoa is lake in Portuguese); that it used to belong to the Captaincy of Pernambuco and that is was also occupied by the French and the Dutch, not just by the Portuguese; that in one of its mountains ridges, the Serra da Barriga, run-away slaves had established the Quilombo dos Palmares, a centennial movement of black resistance against slavery led by the legendary Zumbi.

Descobrimos também que em termos econômicos o Alagoas pouco mudou desde à época dos engenhos e da escravidão. As principais atividades econômicas do estado hoje são as mesmas desde aquela época: cana de açúcar e pecuária. O que vimos pelas estradas confirmaram esta afirmativa. Desde de Penedo, extremo sul do estado, até o litoral norte do Alagoas, a paisagem é quase sempre a mesma: quilômetros a perder de vista de cana e gado!

We also found out that in economic terms little had changed since the times of the sugar mills (engenhos) and slavery. The main economic activities of the state today are the same as during those times: sugar and cattle. What we saw along the roads confirmed this. Starting in Penedo in the extreme South of the state until the Northern Coast the landscape is almost always the same: sugar cane plantations and cattle farms as far as the eye can see!

Cana de Açucar - Sugar Canecattle - gadopoor houses - casebres

Andando de ônibus pelo estado percebemos outra semelhança com aquela época, o poder e a riqueza seguem ainda concentrados em poucas mãos. Os vilarejos formados à beira da estrada e ao borde das usinas são quase sempre uma mistura de casebres, crianças semi-nuas, cidadãos sem dentes e muito pouca infra-estrutura. Esta disparidade entre ricos e pobres no Alagoas explica de certa maneira um problema muito evidente: o lixo.

Crossing the state by bus we saw another similarity with former times: Power and wealth continue to be concentrated in the hands of a few. The villages along the roads and next to the sugar refineries are almost always a mix of small poor houses, half naked children, people without teeth and very little infrastructure. The disparity between rich and poor in Alagoas somewhat explains a very obvious problem: trash.

Nosso assombramento com o lixo começou em Maceió. Em uma das manhãs que estivemos lá, fizemos um passeio de bicicleta pelas praias da capital. Enquanto o mar reluzia um verde quase caribenho, na areia não faltava pedaços de plástico, garrafas PET e muitos outros objetos.

We were troubled by the amount of trash ever since Maceió. There, we spent one morning riding rental bikes along the city beaches. While the sea presented itself in an almost Caribbean green, the sand beaches were littered with pieces of plastic, PET bottles and many other objects.

Nosso trajeto até o litoral norte de Alagoas não desmentiu nossa primeira impressão. No ônibus entre a Barra de Santo Antônio e Porto de Pedras, uma senhora passou, sem nem um pouco de vergonha, duas latinhas de coca-cola para que a filha jogasse pela janela. Também entre as casas dos vilarejos havia lixo espalhado por todos os lados.

Our trip until the Northern shore of Alagoas did not revert our first impression. In the bus between Barra de Santo Antônio and Porto de Pedras a lady passed – without the slightest bit of embarrassment – 2 empty coke cans to her daughter to throw out of the window. Also the streets of the villages were littered with trash.

O cenário não nos deixou esquecer a lição que apreendemos com Roy: a pobreza é um dos maiores inimigos da natureza. Depois de viajar pelo interior do Alagoas e ver o lixo associado à pobreza, compreendemos que não há como se estabelecer um sistema mais harmônico entre homem e natureza, sem ao mesmo tempo reavaliar a relação do homem com o homem.

The scene reminded us of the lesson we had learned talking to Roy: poverty is one of the worst enemies of nature. After traveling through the interior of Alagoas and seeing the trash associated with poverty, we understood that it is not possible to establish a more harmonious relationship between humans and nature without at the same time re-evaluating the relationship humans have with other humans.

Quando perguntávamos se havia medidas para mitigar a pobreza local, não faltaram histórias sobre corrupção que exemplificam o descaso da maioria da classe alta e dos políticos com a pobreza ao redor. Segundo a população local, a ponte que ligará os dois lados do município de Barra de Santo Antônio está em construção há mais de dez anos e provavelmente custou 5 vezes mais do que o necessário. Em Porto de Pedras as eleições foram anuladas por irregularidades… e por aí vai.

When we asked about activities fighting local poverty, we heard lots of stories about corruption, exemplifying that a majority of the upper and political class does not care about the poverty surrounding them. According to locals, a bridge that would link the two parts of Barra de Santo Antônio is under construction for over 10 years and probably cost 5 times more than necessary. In Porto de Pedras the local elections for mayor were nullified because of irregularities… and so forth.

MargotDe certa maneira nossa passagem pelo Alagoas foi afetada por esta realidade. A infra-estrutura turística muitas vezes deixa a desejar e faltam opções de estadia em um ponto médio. Quando chegamos a Porto de Pedras tivemos que caminhar cerca de duas horas com nossas mochilas para decidir onde ficar. O vilarejo tinha poucas opções baratas e limpas de estadia e para chegar as melhores pousadas era preciso carro.

This reality also directly affected our trip through Alagoas. The touristic infrastructure leaves much to be desired and many times there are very few mid-range accommodation options. When we arrived in Porto de Pedras we had to walk about 2 hours with our backpacks to find a place to stay. The town had few options that were cheap and clean and to get to the better pousadas, we would have needed a car.

Foi assim que decidimos, para não ir embora de Alagoas sem conhecer o lado que leva milhares de turistas para lá todos os anos, tirar os escorpiões do bolso. Decidimos passar um fim de semana em uma das pousadas de charme da região, a Pousada Patacho. Quando chegamos lá (o dono Christian nos pegou em Porto de Pedras), não houve dúvidas, havíamos chegamos ao Paraíso. O paraíso esteve perto todo este tempo, só precisávamos gastar mais e nos juntar a elite Alagoana e do resto do país. Como se não bastasse, para confirmar nossa sensação, quem nos recepcionou na pousada foi uma gata branca, a Margot!

To not leave Alagoas without getting to know the side that makes thousands of tourists go there every year, however, we decided to spend more money than planned. We ended up spending a weekend in one of the pousadas de charme of the region, the Pousada Patacho. When we arrived (the owner Christian had picked us up in Porto de Pedras), there was no doubt that we had arrived in paradise. Paradise had been very close all this time. We just had to spend more and join the elites of Alagoas and the rest of the country. As if that was not enough and to confirm our feeling, a white cat called Margot welcomed us!

Nascer do Sol - Sunrise, PatachoA Pousada Patacho está localizada a beira-mar na Praia Patacho. Esta praia e a praia Lage são também umas das últimas praias semi-desertas do Brasil e estão cercadas por piscinas naturais e recifes de corais com um mar verde clarinho, clarinho que enche o coração de paz.

The Pousada Patacho is situated directly on the Patacho beach. This beach and the one called Lage are among the last uninhabited beaches of Brazil and are surrounded by coral reefs and natural pools that form in the reefs. The color of the sea is of a very light green that fills the heart with peace.

Além da sua localização a pousada em si mesma é um show. Ela encanta pelo bom gosto, bom serviço, e pela comida do chefe Dudu, filosofia e simpatia de seu dono, Christian. Valeu a pena cada centavo: com disposição para gastar, o Alagoas é um pedaço do paraíso!

On top of its location, the pousada is a show in itself. We enjoyed it for its good taste, great service, the food of its Chef Dudu, its philosophy and the friendliness of its owner Christian. It was worth every penny: if you are ready to spend money, Alagoas is a piece of paradise!

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2 comments to Alagoas: sea, sugar, trash… and finally paradise!|Alagoas: mar, açúcar, lixo… e finalmente o paraíso!

  • Patricia

    Esta descoberta do paraíso pago não é privilegio brasileiro!!! Mas o dinheiro serve para tirar o lixo, dar emprego as pessoas e consequentemente o tratamento de dente!!! Bjs Patricia

  • Fuegolatino

    Ironicamente, o lixo que se vê , nas areias de certas praias , é deixado ali por todos, inclusive pelo turista que visita a cidade e depois reclama . Se cada um deixasse a preguiça de lado e levantasse para jogar nas lixeiras tudo o que consumisse, sem esperar que os outros fizessem isso por ele, ninguém encontraria praia suja e todos saíriam ganhando.
    O problema é que os primeiros a reclamar e fazer exigências, geralmente sao também os últimos a dar o bom exemplo.
    Eu, religiosamente, cada vez que vou à praia, levo um saco onde deposito tudo para depois, na volta para casa, enfiá-lo na lixeira. Já é automático, e tão essencial quanto levar o protetor solar.
    Simples assim. Se quero tudo limpo e asseado a meu redor, nao fico esperando nem por administração pública, nem por quem me vendeu a água de coco, o coquetel e o camarão para que venham limpar o que eu e centenas de outras pessoas sujamos.

Translation support - Suporte nas traduções: Manuela Sampaio