Ônibus ou não ônibus?

Tivemos uma longa discussão a respeito de qual meio de transporte deveríamos usar durante a viagem. A princípios pensamos que seria necessário comprar um carro mais forte que agüentasse aventuras off-road. Em seguida, passamos a avaliar a opção de aluguel de carro, de modo a evitar a burocracia de compra e venda de carros, seguro etc.. E por último pensamos, porque não viajar de ônibus?

A opção ônibus tem vários contras: menos independência para visitar os lugares desejados, menor espaço para levar coisas, menos conforto, mais noites sem dormir, etc, etc… Contudo, olhando apenas pelo lado prático, também é verdade, que quanto menos coisas levarmos ou quanto menos dirigirmos, menor será nossa preocupação. Sem contar que, colocando na ponta do lápis, também será menor o custo total da viagem. A opção ônibus, no entanto, acabou por ser a escolhida principalmente por uma razão de cunho filosófico.

Como brasileira de classe social média alta tenho a sensação de que no Brasil, uma linha invisível divide os ricos dos pobres. A linha é invisível porque não há uma divisão geográfica, ambas as classes vivem muito perto uma da outra. Em qualquer cidade brasileira é possível ter poucas ruas de distância entre uma favela e condomínios de alto luxo. Esta linha invisível pode ser ilustrada de várias maneiras: na forma de falar, na maneira da vestir, no medo da violência… A verdade é: não importa de qual lado da linha você esteja, sabe-se que há dois lados!

Como adeptos a pesquisação decidimos que viajar de ônibus nos permitiria vivenciar, e logo, melhor compreender certas dificuldades de estar do outro lado da linha. E assim foi: às 18:00hs do dia 01.02.2010 pegamos nosso primeiro ônibus em direção a Vitória da Conquista/BA. Como que para testar nossa decisão, o ônibus que nos levaria por 13 horas de viagem, chegou com defeito: sem ar condicionado e com janelas que não podiam ser abertas porque estavam travadas. Este dia estava fazendo um calor de aproximadamente 40 graus centígrados fora do ônibus. Isto quer dizer que dentro do ônibus a temperatura provavelmente ultrapassava os 50 graus centígrados.

O ônibus sem ar saiu da rodoviária com 30 passageiros até mais ou menos 45 minutos fora de Belo Horizonte. Ficamos esperando 1 hora até que o ônibus substituto chegasse. Felizmente ele chegou… bora para estrada!

Depois de uma noite de sono, chegamos a Vitória da Conquista/BA e daí seguimos para Lençóis/BA. Como era dia, foi possível observar a paisagem. O caminho descrevia em outra linguagem a desigualdade mencionada acima. Entre natureza estonteante e grandes plantações, brotavam casebres, pessoas humildes e odores que denunciavam a pobreza a pesar da beleza ao redor.

Passamos pelos municípios de  Anagé, Tanhaçu, Ituaçu, Barra da Estiva, Cascavel, Mucugê, Andaraí e Tanquinho. Em Tanquinho pegamos um táxi improvisado e chegamos em Lençóis/BA, a sede turística da Chapada Diamantina. Depois de um total de 24 horas de viagem, chegamos no momento exato em que saia uma procissão com centenas de pessoas que celebravam de modo típico a padroeira da cidade. A procissão é um ritual religioso típico de adoração e agradecimento. Senti neste momento uma grande paz, a decisão de partir fora abençoada por Deus…

Esta história toda foi só para dizer que após nosso primeiro e mais longo trecho, ficou claro que a decisão de descer do pedestal de observadores distantes e desfrutar dos confortos e desconfortos de viajar de ônibus pelo Brasil, foi uma decisão acertada!

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3 comments to Ônibus ou não ônibus?

  • Daniel Lacerda

    Claro que tem que ser de onibus! É o melhor jeito de fazer amigos.

    Boas viagens!

  • andreafarnezivelloso

    adorei a decisão de vocês, porque é possível mais indicação e observações das coisas: paisagem, estrada, cidades, pessoas.

  • andreafarnezivelloso

    adorei a decisão de vocês, porque é possível mais indicação e observações das coisas: paisagem, estrada, cidades, pessoas.

Translation support - Suporte nas traduções: Manuela Sampaio